Até agora estou pensando
sobre os eventos ocorridos por ocassião do nascimento desse Jesus de Nazaré. Simeão,
meu amigo, acabara de chegar da Judeia, de onde escutou tal história. Ele havia
ido ao templo em Jerusalém para oferecer seu sacrifício na Páscoa e, após o
término do festival, retornara para casa. Ele não era o primeiro em Edessa que
retornou de Jerusalém com notícias de um possível Messias. Vários outros já disseram que o Messias
chegara mas até agora nada mudou, tudo continua na mesma.
Os Persas aindam nos
ameaçam ao Oriente. Vindo do Ocidente os Romanos nos exploram e pedem nossa
fidelidade contra os Persas. Temos que sustentar o exército com quase metade de
nosso ganho para nos assegurarem que não seremos deixados à mercê dos árabes e
Persas. Quem sabe seria melhor se isso acontecesse. Pois relatos de amigos em
Nisibis, a alguns dias de distância ao
Oriente daqui, do lado Persa, não são tão ruins. O imposto pago aos Persas
parece ser bem menor dos que pagamos aos Romanos.
Há anos escutamos que em
breve o libertador aparecerá na Judeia e assim, nós Israelitas, teremos o nosso
próprio reino. Talvez seria dessa vez. Mas
o que escuto da família de Herodes, o rei da Judeia, não é nada encorajador.
Seus filhos, os que não foram assassinados por seu pai, são tão ruins para
nossos irmãos ou pior que os Romanos ou os Persas aqui no Eufrates. E por isso que a história desse nascimento me
deixou ainda mais intrigado. Seria então um novo rei que destituiria os filhos
de Herodes? Fiquei em dúvida a princípio. Novamente, tudo continua na mesma e
Simeão disse que tais eventos já aconteceram a alguns anos.
Mas algo me diz que dessa
vez pode ser diferente. Seria esse o enviado de Deus para finalmente restaurar
o reino de Davi, nosso pai? Afinal, o
que escutei me fez lembrar de muitas promessas das Sagradas Escrituras.
Escutei que ele nasceu em
Belém, na cidade de Davi (Mat 2:1, Luc 2:11) Seus pais haviam recebido a visita
de um anjo do Senhor, anunciando que o bebê seria o rei de Israel para
sempre (Luc 1:32, 33). Isso me fez lembrar do que Deus havia prometido em um
sonho a Davi, que seu filho (Mat 1:6, 20; Luc 1:27) seria rei para sempre.
Seria esse filho que construiria uma casa eterna ao Deus de Israel (II Sam 7:13/
Luc 1:32,33; Mat 2:2). O local onde o sacrifício da aliança seria imolado
começou a ser preparado quando um anjo do Senhor apareceu a Davi. Dessa
vez com más notícias. A casa de Davi seria punida. Enquanto o anjo levantava
sua mão contra os Israelitas, Davi edificava um altar e fazia cessar a praga
(II Sam 24, I Crôn 21). Naquele momento de juízo apenas um sacrifício expiaria os
pecados e livraria Israel. Salomão, o filho de Davi, quem construiu o templo no
local onde Davi, seu pai, erguera um altar, ratificou a aliança, mas não houve paz
em Israel conforme o prometido. Será então esse suposto rei o que realizará
finalmente o sacrifício do filho de Davi, e que trará fim ao sofrimento de
Israel? Pois conforme escutei em sua história, teve início com a visita de um anjo
no templo, anunciando a libertação de Israel (Luc 1:8-23; 2:22-49/Mal 3:1).
Sua história é também bem
semelhante à história do nosso grande mestre Moisés. Em seu nascimento me foi
dito que as crianças Israelitas morreram (Mat 2:16-18), e que possivelmente
apenas ele havia escapado para o Egito. Mas parece que ele retornara com seus
pais para a terra de Israel. Semelhante às indas e vindas de José, que também foi
dado por morto, foi ao Egito e se tornou o salvador de sua família, como
Moisés. Esse também recebeu a visita de um anjo do Senhor (Êxod 3:2),
como no juízo de Davi, e foi escolhido para libertar Israel da escravidão.
Por falar em anjo do
Senhor, parando para pensar, não foi com muita frequência que Deus enviou
esses mensageiros. Ele aparece anunciando o nascimento de Sansão, que também
libertou Israel dos seus inimigos. O anjo do Senhor parece ter
algo em comum em todas essas histórias
de Davi, Sansão e Moisés. Em todos elas, lembro que o mensageiro de Deus
aparece num momento de crise, e um sacrifício é realizado para evitar a morte
de alguém ou dos pais (Juz 13:22-23) ou dos filhos (Êxod 11-12) ou de todo
Israel (II Sam 24:15-17, 21, 25).
As semelhanças com Moisés
e Sansão não param por aí. Em ambos os
encontros com esse mensageiro, tanto Moisés como os pais de Sansão, inquerem
sobre o seu nome (Êxod 3:13; Juz 13:17). E como escutei de Simeão, nome pareceu
ser algo importante nos eventos do nascimento desse Jesus (Mat 1:21, 23, 25;
Luc 1:13, 59-66; 2:21). Escuto ecos de Sansão também quando ouço dizer que essa
criança, de acordo com rumores na Galileia, cresce cheia do Espírito em Israel
(Juz 13:25/Luc 1:80; 2:52; 3:22; 4:1, 18), e que era impossível sua mãe
conceber naturalmente (Mat 1:18, Luc 1:7, 27, 34-37).
Ah, mas essas não foram as
únicas mães em Israel que não puderem ter filhos naturalmente. Lembro de Sara,
Raquel e Ana...Por falar em Sara, um anjo do Senhor também apareceu a ela
prometendo um filho (Gên 18:10). Depois de velha ela teria o prazer de gerar
vida (Gên 18:12/Luc 1:14). Ana, semelhante a Ζacarias, parente de Jesus
(Luc 1:36), também aparece no santuário pedindo um filho a Deus com seu coração cheio de angústia (I Sam
1:11/Luc 1:13) e suas orações são
respondidas. Ambos são juízes em Israel, consagrados ao Senhor, e são recebidos com cânticos de exaltação e
juízo, com uma forte esperança que esse seria o tempo da libertação do Senhor
(I Sam 2:1-10/Luc 1:46-55, 68-79).
Quem sabe, Miriã, nossa
vizinha, deveria escutar essa história. Há anos ela tenta ter um filho. Já
desistiu até de ir a Jerusalém para pedir a Deus. Ela disse a minha esposa que
não adiantava andar toda essa distância, de aproximadamente 20 dias, sem a
certeza de que seria atendida por Deus. Afinal, desde os reis de Israel não se
escuta de uma estéril que dera à luz um bebê. Mas se essa história for verdade, recentemente duas Israelitas foram atendidas e visitadas por um anjo do Senhor.
Falando em anjo novamente,
essa história de Jesus me fez lembrar de Daniel. O mesmo Gabriel que aparecera
ao profeta no Oriente, é dito ter aparecido anunciando o nascimento desse
menino Jesus. Como no passado, Gabriel anunciou que alguém fora favorecido(a)
por Deus (Dan 9:23/Luc 1:28,30, cf. Gên
6:8), e por isso, não deveria temer (Dan 10:12/Luc 1:13, 30). A mensagem que
Daniel recebera do anjo fora sobre o final dos pecados, sacrifício, aliança e
libertação, como nas outras visitas desse anjo (Moisés, Sansão e Davi). Será
esse o ungido (messias) prometido por Gabriel a Daniel? (mais sobre isso em
breve)
Há rumores que vários
acreditam ser esse o caso. Inclusive, enquanto comprava especiarias da Índia,
trazidas por mercadores vindos de Nisibis em direção a Cesareia, meu pai
escutou deles que já fazem uns anos (aproximadamente o tempo que Simeão disse
ter nascido a criança, no final do reinado de Herodes) que ricos sábios de Susa
(ao leste do Tigris) foram a Belém e retornaram proclamando terem conhecido o
novo rei de Israel ainda bebê. O mestres Judeus da região diziam ser possível
que tal fosse o prometido por Deus, pela contagem do número proferida por
Daniel, e da suposta estrela que tais magos disseram ter visto. Mas, novamente,
já fazem pelo menos uns 25 anos e até agora nada aconteceu de novo.
Será que esse Jesus ainda
está vivo, será que ele está esperando o tempo certo para estabelecer o reino
de Israel ou será uma triste coincidência?