Saturday, January 21, 2017

Escutando a história do nascimento de Jesus com ouvidos Hebraicos no primeiro século na Síria - Parte 2

Há alguns dias estou refletindo sobre as notícias vindas da Judeia. Esse nascimento de Jesus com aparições de estrelas e anjo tem me deixado intrigado. As semelhanças do que escutei com as histórias de Abraão, Moisés, Sansão e Davi são muitas para serem meras coincidências (ver texto anterior). O mensageiro do Senhor apareceu em momentos de crise ou juízo quando um sacrifício deveria ser feito para o livramento de alguém. Será que é tempo de visitação divina?

Sábado passado conversei com o mestre da sinagoga, rabi Naason, sobre os últimos acontecimentos na Judeia e suas semelhanças com as Escrituras Sagradas. Perguntei se ele também ouvira o relato vindo de Susa, sobre os sábios do Oriente que viram uma nova estrela e a seguiram até Belém e disseram assim ter conhecido o messias. Rabi Naason me disse que estava em Jerusalém quando isso aconteceu, a uns 20 anos atrás. Ele lembra que a notícia trazida por eles, de uma estrela nova no céu, gerou uma atmosfera de ansiedade entre os mestres da lei. Logo o que mais se comentava na cidade era a possibilidade do messias ter nascido.

O povo ficou esperançoso, ele me contou, porque não viam a hora de Herodes sair de cena. Apesar de ter iniciado a reconstrução do templo, uma grande e belíssima obra, seu governo trouxera muito sofrimento aos habitantes da Judeia. Herodes era muito cruel até com seus próprios familiares. Ah, corria um dizer entre o povo que melhor seria ser seu porco do que sua esposa, pois pelo menos o porco estaria salvo. Não foi em vão que Herodes mandou matar crianças em Belém ao saber da possibilidade de que seu poder estava sendo ameaçado.

Em reuniões que participara no templo após a visita dos magos, Naason lembra que um grupo de mestres da lei de diversas partes estudara avidamente as profecias para saber ao certo quando o messias chegaria. E dentre várias passagens estudadas, a do profeta Daniel foi a que mais os impressionou. Pois essa era a única que mencionava um tempo para a vinda do messias, o príncipe de Israel (Dan 9:25). Sessenta e nove semanas de anos desde a reconstrução do templo na época dos exilados até o ungido. Eles calcularam de diversas formas quando isso deveria acontecer, e o consenso era que, em breve, pois já havia passado mais de 450 anos desde a saída de Esdras da Pérsia.

Coincidentemente, o texto lido na sinagoga naquela manhã que conversava com o rabi fora o da oração de Daniel (capítulo 9). Aproveitando a oportunidade, rabi Naason me mostrou as semelhanças entre aquele episódio e os rumores sobre o nascimento de Jesus. O mesmo Gabriel que aparecera ao profeta no Oriente é dito ter aparecido anunciando o nascimento desse menino Jesus. Como no passado, Gabriel anunciou que alguém fora favorecido(a) por Deus (Dan 9:23/Luc 1:28,30, cf. Gên 6:8), e por isso, não deveria temer (Dan 10:12/Luc 1:13, 30). A mensagem que Daniel recebera do anjo fora sobre o final dos pecados, sacrifício, aliança e libertação, como nas outras visitas desse anjo (Moisés, Sansão e Davi). Isso eu já havia notado (ver texto anterior). Fiquei feliz em saber que não era o único intrigado com tais semelhanças.

Mas ele me mostrou algo mais. Ele me fez refletir sobre o significado da oração de Daniel e a vinda do messias. Ele me lembrou que Daniel e os demais Israelitas estavam em Babilônia por desobedecerem a aliança (Deut 28:36, 47-51, 64-67; Dan1:1,2 à 2 Crôn36:15-17). E por infidelidade de boa parte do povo o templo havia sido destruído. Em ruínas, a condição do santuário em Jerusalém era apenas um reflexo do relacionamento entre os Israelitas de outrora e Deus. Triste com a fragmentação moral e física de Jerusalém, Daniel ora.

Rabi Naason pondera que tal oração tem em mente outra oração, a que Salomão fizera ao dedicar o templo (1 Reis 8:15-63). Naquela ocasião, Salomão pede ao Senhor que perdoe Israel quando o povo transgredisse os mandamentos e levado fosse em cativeiro, conforme os termos da aliança. O rei suplica ao Senhor que perdoasse e atendesse qualquer um que orasse por perdão, voltado ao templo, buscando o Senhor. É exatamente isso que Daniel fez. No cativeiro, tendo os pecados de Israel em mente, tendo o templo em ruínas em mente, ele clama ao Senhor por livramento (Dan 9:2-19).

Logo noto que o texto diz que Daniel, antes de orar, refletia sobre o tempo que já estivera no cativeiro, à luz do profeta Jeremias. O profeta Jeremias havia prometido que, após 70 anos, Israel retornaria a Jerusalém (Jer.25:9-12). É possível que Daniel achasse que o tempo chegara, pois naquele ano de sua oração já havia se passado cerca de sete décadas desde a sua saída de Jerusalém. Entendendo as condições da profecia e da aliança Daniel implora para que Deus intervenha (Jer 29:10-14; Dan 9:12-20).

Nesse momento de clamor, Gabriel aparece com uma promessa, o reino do Deus de Israel seria restaurado. Jerusalém com suas ruas e muros seria reconstruída e o messias viria. Pouco tempo depois (cf. Dan 10:1 e Esd 1:1) Esdras recebe permissão de Ciro, rei da Pérsia, para retornar com outros Israelitas à Jerusalém a fim de reconstruir sua nação (Esd 1-2). O templo é restaurado, Jerusalém reconstruída, mas até agora o messias não veio e o reino de Deus não chegou. Essa parte da promessa ainda não foi cumprida.

Rabi Naason confessou que ele acreditava que o tempo chegara para a vinda do messias. Ele me mostrou que o tempo proferido por Gabriel a Daniel, de 70 semanas de anos (490 anos), estivera perto de completar ou já terminara (Dan 9:25,26). É possível, então, que os acontecimentos em volta do nascimento desse Jesus de Belém esteja relacionado ao tempo da profecia.

Agradeci ao rabi pela ótima conversa e, como já era tarde, voltei para casa. Fui dormir pensativo com mais perguntas que respostas. Se o tempo prometido já chegou, por que nós, Israelitas, continuamos oprimidos pelos Romanos e Persas? Onde estará esse Jesus de Belém? Será que ele é o enviado de Deus para restaurar Israel?

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