O texto bíblico
possui em sua narrativa jogos de palavra nítidos em Hebraico. Nome de pessoas e
lugares são modificados de acordo com a situação, como Abrão para Abraão, Jacó
para Israel. Podemos inferir então que o evento histórico foi modificado com o
passar do tempo com objetivos literários?
Os episódios do
passado são preponderantemente trasmitidos de forma oral. Pense na vida de seus
familiares. Quantos deles escreveram diários que foram preservados? Via de
regra, apenas alguns histórias são estruturadas e documentadas em forma
escrita. Histórias são baseadas em (1) testemunhas oculares, (2) reportagens,
testemunha secundária ou tradição oral, (3) reportagem, testemunha secundária
de forma escrita. O próprio ato de escrever, passar do oral para escrita,
requer intencionalidade. Seletividade, organização e estrutura é necessário para
transmitir adequadamente uma mensagem. Assim, o texto bíblico não é diferente.
As suas narrativas são seleções organizadas inteligentemente com o objetivo de
transmitir uma messagem (e.g. João 20:30,31).
Nesse processo de
transmissão a mensagem é moldada para determinados fins. Assim, percebemos no
texto bíblico que nomes de lugares e pessoas evoluem como parte do enredo. A
medida que as coisas mudam, os nomes também mudam. A fonte de água de Jerusalém
outrora chamada Rogel, passa a ser chamada Gihon, mesmo nome de um dos rios do
Éden (Gên 2:13; 2 Cr 32:30; Josué 18:16; 1 Reis 1). Isso possibilitou a
tradição rabínica de identificar Jerusálem como sendo o paraíso de Deus. Outras
vezes, pessoas são nomeadas por suas características físicas ou expectativas
dos pais. Esaú é chamado de Edom (Hebraico – vermelho) por causa da cor
vermelha da lentilha (comida) que ele trocou por sua primogenitura (Gên 25:30).
Curiosamente, Esaú é também descrito como uma crianças cheio de cabelos ruivos
(vermelho), ligando ao nome do território que ele habitaria, Seir (Hebraico –
cabelo; Gen 25:25 e 32:3, 36:8). Jacó, nomeado após sua atitude de engano, tem
seu nome mudado para Israel após lutar com o anjo do Senhor (Gên 32:28).
Seriam essa mudanças
original à narrativa? É difícil de ser dogmático. Pode ser que em determinados
casos, a mudança de nomes fora original quanto que em outras a mudança fora
efetuada editorialmente. Por exemplo, será que Isaque chamava seu primogênito
de Esaú, Edom e Seir? O texto não deixa claro, possivelmente não. Já no caso
dos Hebreus na Babilônia a narrativa do livro de Daniel indica que o rei mudou
seus nomes para vocábulos locais. Faz sentido que eles passaram a ser chamados
por tais nomes Babilônicos (Dan 1:7).
É importante notar
que certos nomes permitiam um certo jogo com palavras tais que os autores usavam
para fins comunicativos. Por exemplo, Em Hebraico o nome de Jesus (Josué)
significa ele salvará. Vemos então em Mateus 1:21 o anjo Gabriel dizendo a
José, “e darás a ele o nome de Jesus (ele salvará), pois ele salvará o
seu povo dos seus pecados.” Outro exemplo é o nome do profeta Daniel, que em
Hebraico significa Deus é meu juíz. Um tema central no livro é o julgamento
divino sobre as nações.
Nem sempre nomes próprios
possuem significados ou estão ligados à mensagem da narrativa, mas quando estão
é importante ao leitor que ler o texto bíblico em traduções, conhecer um pouco
do Hebraico a fim de avaliar melhor as nuâncias literárias ali contidas.