A lição 19 (Paulo e Romanos: Israelitas e Povo de Deus)
tratou de Romanos 11. No v.26, Paulo se refere à salvação de todo o Israel. Quem
são eles?
Conforme vimos nessa aula do Contexto Judaico do Novo Testamento, em Romanos 11, Paulo argumenta que Deus não rejeitou Israel (v.2) porque
eles rejeitaram Jesus como o Messias (Rm 10: 16-21). Embora Deus considerasse a
não aceitação deles como rebelião. Paulo argumenta que, porque nem todos os Israelitas
aceitaram Jesus como o Messias, apenas alguns ou remanescentes foram escolhidos
pela graça (v.5, 7). Mais tarde, Paulo argumenta que se os Judeus que
rejeitaram Jesus se arrependessem, seriam enxertados na oliveira (v.20, 23).
Então, ele continua dizendo que, mesmo após o endurecimento do coração de
alguns Israelitas, todos seriam salvos por causa de sua eleição por Deus, que é
um presente irrevogável. Eles são salvos pela graça, não por suas obras de
rejeitar temporariamente o Messias (v.28-32).
Isso significa que todos os Israelitas étnicos seriam salvos,
independentemente da crença em Jesus? Primeiramente é importante esclarecer que
Israel é o nome de Jacó, e os Israelitas estritamente falando são os
descedentes étnicos de Jacó/Israel. No entanto, é importante notar que após a
monarquia dividida no período de Roboão e Jeroboão (1 Reis 12-13), as 9 tribos
e ½ ao Norte de são identificadas como reino de Israel, enquanto que as 2
tribos e ½ ao Sul são identificadas como reino de Judá. Assim, o termo
Israelita pode ter ganhado uma nova conotação, os habitates do reino do Norte.
Mesmo que etnicamente os habitantes o reino do sul também fossem Israelitas. Além
disso, sabemos de outras etnias que moravam na terra de Israel e nas narrativas
bíblicas elas não são enfatizadas.
Deve-se levar em conta também, que na época de Paulo, não está claro se a
afiliação tribal estava bem preservada e se os descendentes das 12 tribos
estavam vivos e claramente identificados. Ouvimos no NT referências a algumas
tribos como Levitas, Benjamitas e Judeus. A importância de manter a genealogia
Levita era por causa do sacerdócio. E a genealogia de Judá por causa do reinado
após Davi. Qualquer outra afiliação tribal era politicamente irrelevante. A
preservação da linhagem de Benjamim no caso de Paulo, um Israelita da diáspora,
indica que para muitos isso ainda era importante e digno de manter em
registros.
Em Apocalipse 7, há um registro das 12 tribos de Israel, mas com uma lista
modificada da Torá. As tribos de Dã e Manassés são excluídas e as de Levi e
José estão incluídas. Isso indica o provável caráter simbólico desta lista.
Portanto, ao ler a referência a "todo Israel" em Romanos 11:26, é
necessário considerar que, no século I, alguns Cristãos Judeus estavam se
referindo a Israel como uma representação do povo de Deus, e não
necessariamente à Israelitas étnicos no sentido estrito, como alguém que tem um
DNA de Israel. Não sabemos se todas as tribos necessariamente mantinham
registros de sua genealogia. Este último ponto é especulativo com base na
ausência de evidências, o que, é claro, pode estar errado, mas poderia sugerir
que a essa altura os Judeus não estavam preocupados com uma genealogia estrita
para determinar o status de um Israelita.
Outro ponto a considerar. Se Paulo em Rom 11 estava sugerindo que todos os
Israelitas étnicos seriam salvos, isso aparentemente contradiz o que ele
sugeriu em Rom 2. Lá, ele argumenta que aqueles que crêem em Jesus ao ouvir a
lei seriam justificados, independentemente de sua etnia. Lá, ele também articula
a ideia de que nem todos os Judeus circuncidados ou étnicos são considerados Judeus.
O status judaico, para Paulo, é avaliado não na circuncisão física, mas na
circuncisão do coração (vv.28-29). Isso estaria de acordo com a ideia de
identidade não baseada no DNA físico.
A partir disso, parece possível ver Israel como uma entidade composta por Judeus
e Gentios étnicos que aderiram à fé de Israel e à lei. Na mente de muitos na
antiguidade, o comportamento determinava a genética. Assim, ser um Judeu era
viver como um Judeu. Nesta perspectiva, a referência à salvação de “todo o
Israel” (v.26) poderia estar se referindo àqueles que eventualmente se
alinharam a Deus. De acordo com Ef 2 e Gál 2-3, Judeus e Gentios que criam em
Jesus como o Cristo estavam nEle. Visto que Jesus é filho de Abraão, todos os
que estão em Cristo são herdeiros de Abraão, de acordo com a promessa. Portato,
o crente misticamente se tornava participante de Israel. Parece que, para
Paulo, a identidade Israelita diz respeito à salvação definida à luz da fé em
Jesus. Dessa maneira, aqueles que não eram crentes em Jesus seriam excluídos da
linhagem de Abraão e Israel. O status deles mudaria.
Que tal perspectiva de mudança de status era reconhecida entre os Judeus
durante esse tempo é evidente no esforço dos Fariseus em converter Gentios,
tornando-os "Israelitas". Ouvimos no debate de Jesus com as autoridades
Judaicas a noção de que a etnia espiritual era o que contava (filhos de Deus ou
filhos do maligno - João 8: 31-59; ver também 1 João 3). Filho de Deus é aquele
que Lhe obedece.
Nesta perspectiva, Paulo não está mudando de uma definição étnica para não
étnica (espiritual) do termo no capítulo, uma vez que alguém que está em Cristo
se tornou um Israelita. É a perspectiva do leitor que distingui claramente entre
físico e espiritual que pode ter complicado o entendimento dessa passagem.
Quando é entendido à luz das categorias da antiguidade, faz sentido o que Paulo
explica.
Fontes: Hans K. LaRondelle, O Israel de Deus na
Profecia. Unaspress, 2002.
“Medicine” (Heidi Marx-Wolf) cap.
4 em Late Ancient Knowing. University of California Press, 2015.
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