Recentemente Israel celebrou Shavuot (Pentecostes), e aproveitei para escrever uma reflexão para os alunos do Israel Institute of Biblical Studies que compartilho abaixo.
Logo após a partida do Egito, Deus ordenou que os Israelitas
separassem dias específicos durante o ano (Heb. moedim) para comemorar
as ações de Deus em seu favor. A Páscoa, no 1º mês, começaria o calendário
deles, lembrando o poderoso ato de Deus ao libertá-los da opressão dos egípcios (Êxodo
12).
“No dia seguinte ao sábado”, após sete semanas completas
(ciclos de sete), após a Páscoa, os Israelitas deveriam celebrar as Primícias (Yom
haBikkurim). Em seguida, os Israelitas deveriam celebrar Pentecostes (Shavuot
- Lv 23: 9-15). Sete semanas após a dedicação dos primeiros grãos brotando do
solo, eles deveriam trazer o grão novamente. Agora o grão estava em sua
maturidade. As celebrações das Primícias e Pentecostes estão entrelaçadas e
ligadas à agricultura da terra de Israel. Ao trazerem os grãos (por exemplo,
cevada, trigo, grão-de-bico) ao Senhor, os Israelitas estariam demonstrando que
suas vida dependiam de Deus. Os grãos são a principal fonte de alimento nas
terras bíblicas, solo que depende da chuva e não de rios para brotar (Dt 11:
10-12). Também haveria uma festa de colheita para os frutos, mas essa ocorreria
no outono, no sétimo mês, durante a celebração das Tendas ou Tabernáculos (Sukkot).
Cinqüenta dias após o Sábado, logicamente sempre caíam no
domingo (primeiro dia da semana). No entanto, uma tradição rabínica, posterior,
sugeriu que o sábado (Lv 23: 11,15) que serve de referência para contar (Heb. omer)
as sete semanas ou quarenta e nove dias, era o dia em que o cordeiro da Páscoa
era consumido, o 15º de Nisã. O significado da palavra sábado aqui seria então
genérico, traduzido como cessação. Sobre isso, nem todos os Israelitas
concordaram. A maioria dos Israelitas (Boetusianos, Manuscritos do Mar Morto -
Essênios, Karaítas, Samaritanos) entendeu que "o Sábado" era o sétimo
dia da semana. Esta última posição é indicada pela referência a “sete setes /
semanas completas” (v.15). Uma semana em Gên 1 começa no domingo e termina no
sábado do sétimo dia. Assim, as duas festas da dedicação do grão (Primícias e
Pentecostes) sempre caíam no primeiro dia da semana.
A tradição rabínica também desenvolveu a ideia de que a dádiva da Torá
acontecera neste dia (Êxodo Rabá 31). Isso foi derivado da passagem em
Êxodo 19:1, que afirma que “no terceiro mês após os Israelitas saírem da terra
do Egito” eles chegaram à região do Sinai. Embora este texto não indique qual
dia do terceiro mês, é sugestivo que a única celebração sagrada de Lev 23 que
caía neste mês fosse o Pentecostes. Não temos nenhuma referência explícita na
Bíblia Hebraica de Israelitas indo ao templo durante esse período, mas pode-se
supor que eles iam. Nos Evangelhos, também não encontramos Jesus indo à
Jerusalém no Pentecostes (Shavuot), pelo menos explicitamente. No
entanto, lemos no Evangelho de João algumas instâncias durante sua vida adulta,
quando Jesus foi à Jerusalém no período de alguns tempos sagrados (veja
abaixo).
Páscoa/Pesach (פסח)
Quando já estava chegando a Páscoa judaica, Jesus subiu a Jerusalém. (João 2:13)
Um festival não identificado
Algum tempo depois, Jesus subiu a Jerusalém para uma festa dos Judeus. (João 5:1)
Tabernáculos/Sukkot (סוכות)
Contudo, depois que os seus irmãos subiram para a festa, ele também subiu, não abertamente, mas em segredo...no último e mais importante dia da festa...(João 7:10, 37)
Dedicação/Hanukkah (חנוכה)
Celebrava-se a festa da Dedicação, em Jerusalém. Era inverno, 23 e Jesus estava no templo, caminhando pelo Pórtico de Salomão. (João 10:22-23)
Páscoa/Pesach (פסח)
Ao se aproximar a Páscoa judaica, muitos foram daquela região para Jerusalém a fim de participarem das purificações cerimoniais antes da Páscoa ... Seis dias antes da Páscoa Jesus chegou a Betânia, onde vivia Lázaro, a quem ressuscitara dos mortos. (João 11:55; 12:1)
Em Lucas 2:41-42, lemos "Todos
os anos seus pais iam a Jerusalém para a festa da Páscoa. Quando ele completou
doze anos de idade, eles subiram à festa, conforme o costume."
De acordo com a Torá (Êxodo 23:14-17), os Israelitas
deveriam comparecer ao santuário pelo menos três vezes ao ano, durante a Páscoa
(Pessach), Pentecostes (Shavuot) e Tabernáculos (Sukkot).
Portanto, a partir daqui, pode-se supor que Jesus, juntamente com sua família, fosse
à Jerusalem durante Pentecostes, bem como em outros tempos sagrados.
Por fim, lemos em Atos 1 que
Jesus foi à Jerusalém precisamente para esta ocasião, mas desta vez, Jesus
parte (para o céu) antes do festival. Há uma tradição que vê a ascensão de
Jesus como a razão do derramamento do Espírito no capítulo 2. À luz dos rituais
do santuário e da epístola aos Hebreus, alguns dizem que quando Jesus subiu ao
céu, ele foi ungido sacerdote, e o que Jesus recebeu no céu foi confirmado com
Seus seguidores na terra com a unção do Espírito Santo. É interessante notar
que, na tradição rabínica, Pentecostes é o dia da revelação de Deus no Monte.
Sinai com fogo, semelhante ao que acontece com Atos 2 quando labaredas são
visualizadas na sala com os discípulos.