Friday, September 15, 2017

Oras, o templo já não foi reconstruído? Há profecias sobre uma segunda reconstrução do templo?

Continuando nossa série de perguntas e respostas, uma questão vinda de um de nossos alunos sobre o templo em Jerusalém e profecias de sua restauração. 

Se deseja a sua pergunta respondida aqui, por favor, me envie pelo email rodrigog@eteachergroup.com 

As profecias de Ezequiel, Ageu, Malaquias e outros apontam para a vinda do Reino Messiânico num templo restaurado. Restaurando tendo em comparação a destruição feita pelos Babilônicos. É verdade que o Templo foi reconstruído começando com Esdras e Neemias, mas essas profecias parecem apontar para algo mais espetacular pois quando o Templo for "verdadeiramente" reconstrído haverá paz e o Deus reinará em Israel (Leia Ezequiel 40-44 por exemplo). Isso não foi o que ocorreu com a reconstrução do Templo (o segundo). E não é surpresa que vários Israelitas não achavam que o 2o. Templo era o envisionado pelos profetas. Os Israelitas de Qumran por exemplo em um de seus documentos escreveram que Deus removeria o atual Templo (corrupto) e reconstruiria um novo conforme Ezequiel (Rolo do Templo - Temple Scroll) quando justiça e paz duraria pra sempre.

Semelhantemente o NT não deposita muita confiança no 2o. Templo e aponta para um Templo Messiânico na figura de Cristo (e.g. João 2) e num santuário no céu (livro de Hebreus e Apocalipse). Somente com a 2a vinda do Messias que o Templo seria purificado e verdadeiramente restaurado o reino de Deus.  Vários Israelitas (Judeus) atualmente possuem a mesma crença, que as profecias acerca da restauração do Templo não se cumpriu no 2o Templo, e por isso, eles estão à espera de sua restauração.

O Templo certamente foi reconstruído após o cativeiro Babilônio mas como mencionei, de acordo com várias profecias na Bíblia Hebraica a reconstrução prometida inclui uma restauração do Reino de Deus, o que para muitos não ocorreu no V século AEC. Sobre números de templo creio que esse não seja o ponto. Tanto Judeus como Cristãos (alguns) acreditam que não importa necessariamente a reconstrução física de um templo em Jerusalém, mas essas profecias devem ser lidas em conjunto como uma promessa da instauração do Reino Messiânico. Assim alguns ainda esperam tal cumprimento.

Há referências na Torá que falam de um lugar que Deus escolheria para estabelecer o tabernáculo (Deut. 12:5,11,13; 15:20; 17:8; 18:6). No entanto, em I Reis 8:16 é dito que Deus até Davi não havia escolhido nenhum lugar específico. É com Davi que um lugar é escolhido para erigir um Templo e com inicial resistência de Deus mas depois aprovação. 

A tradição Samaritana em sua versão do Pentateuco escreve mt. Gerizim em algumas passagens de Deuteronômio e num mandamento de Exod 20. Para eles o local santo escolhido por Deus antes da entrada na terra prometida é o Mt. Gerizim, o monte onde as bênçãos deveriam ser pronunciadas (Deut.11:29, 27:12; Josué 8:33). Para mais informações sobre a razão histórica desse debate ver o livro JEWS AND SAMARITANS (Gary Knoppers) 

Sobre Templo e Cristianismo a relação é mais complexa. Resumo os pontos principais da diversas teorias. Alguns pais da Igreja no II-III século por exemplo acreditavam numa restauração física do templo em Jerusalém com a 2a. vinda do Messias (Jesus). Posteriormente, na época de Constantino, quando o Cristianismo é aceito pelo Imperador Romano, a sacralidade geográfica do Templo foi transferida para a Igreja do Santo Sepulcro construída por ordem de Helena, mãe de Constantino, - verificar Eusébio de Caesareia em História Eclesiástica e Vida de Constantino. A diferença aqui é que o reino de Deus agora é representado pelo Império Romano Cristão e não mais uma vinda de Jesus física. Essa ideia toma contornos mais detalhados em Agostinho (Cidade de Deus). Essa tradição continua com seus adeptos hoje. Há vários Cristãos que acreditam numa restauração do templo em Jerusalém como cumprimento das profecias da Bíblia Hebraica.


No entanto nem todos os Cristãos aderiram a essa sacralização em Jerusalém ou do Reino de Deus=Império Romano Cristão (creio ser a maioria dos Cristãos na história). Para esses Jerusalém não é o lugar sagrado (onde Deus habita de uma maneira especial). Jesus está no santuário celestial (NT- Hebreus) e em Sua Igreja ao redor do mundo (Mt 28:20). As profecias acerca de uma restauração de Jerusalém ocorrerá por ocasião do retorno de Jesus quando uma nova terra será feita (Apocalipse 20-22). Obviamente que há detalhes de ambas interpretações que são questionados e discutidos por adeptos dessas visões. Mas, de maneira geral essas 2 são as teorias principais acerca do Templo em Jerusalém e o Cristianismo.

Thursday, July 13, 2017

Se o ser humano após a morte não age, quem “subiu” ou apareceu a Saul em I Sam 28?

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Primeiramente devemos lembrar que no Bíblia a morte é inexistência (Sal.6:5, 115:17, 146:4, Ecl 3:19-20, 9:4-10). A noção de uma existência pós-morte ou sem Deus é uma ideia atribuída primeiramente a serpente (Satanás) em Gên 3:4-5 (ver Gên 2:17 e Apoc 12:9). Em Deut 18:9-14 e Isa 8:19-20 Deus proíbe qualquer contato com aqueles que consultam aos mortos (ver Lev 20:6, 27). Mas por que proibir algo que seria impossível? Se o morto não pode interagir a que se refere essa proibição?

As proibições de Deut 18 e Isa 8 apenas mencionam a consulta aos mortos com idolatria e engano mas essas passagens não explicam se o morto era visto ou não e se sim o que seria esse ser. É no Novo Testamento que isso é explicado.  Ensinando aos Coríntios sobre idolatria, Paulo relacionado os ídolos aos demônios ou inimigos espirituais de Deus (1 Cor 10:19-21). Ele afirma que o próprio Satanás pode agir de maneira enganosa através de personificações (2 Cor 11:13-15) como ocorreu na tentação de Jesus (Mat 4:1-11). Assim, nos parece lógico relacionar a aparição de mortos como vivos aos demônios.

Tendo isso em mente vamos a uma breve análise do único caso em toda a Bíblia de uma aparição de um defunto humano como vivo, 1 Samuel 28. O texto deixa claro que Samuel estava morto (v.3). A narrativa começa com essa observação preparando o leitor para as incoerências que se seguem. “Samuel estava morto e...” além do mais “Saul havia expulsado do país os médiuns e os que consultavam os espíritos.” (v.3).  De acordo com a ordem divina explicitada em Deut 18, os necromantes foram banidos pelo rei de Israel porque tal prática era abominável (ver 1 Sam 6:2, 15:23). Essa observação deixa ainda mais claro a incoerência do que se segue, pois o próprio rei que mandara expulsar os necromantes agora estava a sua procura. E por que?

“Saul viu o acampamento filisteu e teve medo, ficou apavorado.” (v.5) O medo de Saul o fez agir de maneira insensata. Anteriormente Deus havia liberto os Israelitas dos filisteus sem muitos problemas. Davi não tivera medo do gigante Golias. Mas Saul perdera o senso da proteção divina e por isso o medo. O rei havia perdido contato com o Senhor Deus de Israel. “Ele consultou o Senhor, mas este não lhe respondeu nem por sonhos, nem por Urim nem por profetas.” (v.6). Desde o capítulo 15, quando Saul desobedece a ordem divina pronunciada pelo profeta Samuel, Deus não se comunica com Saul.

A sequência narrativa desde 1 Sam 15 enfatiza o contraste entre Saul e Davi e dá força literarária ao abandono divino ao rei Saul. Em 1 Sam 15 Deus rejeita Saul (não é à toa que Deus não o respondera no cap. 28).  Em seguida (1 Sam 16) Davi é ungido por Samuel enquanto isso Saul é possuído por um espírito mal (v.23; ver 18:12). Saul então começa a perseguir Davi e em certa ocassião o espírito do Senhor se apodera dos homens de Saul os inibindo de matar Davi (1 Sam 19:20). Saul continua com o espírito do mal e vai a loucura ordenando a matança de toda uma cidade de sacerdotes por vingança ao tratamento com Davi, que havia consultado ao Senhor via o sacerdote (1 Sam 22). Essa narrativa se torna significativa porque em 1 Samuel 28 é informado que esse privilégio é negado a Saul. O contraste entre Davi e Saul se dá também em atitudes. Davi mesmo tendo oportunidade e apoio não assassina o seu inimigo Saul (1 Sam 25 e 26). Ao leitor chegar em 1 Samuel 28 a narrativa deixa claro que Deus não mais está do lado de Saul e sim de Davi. Por que então Deus falaria com Saul?

Em 1 Samuel 28 chegamos ao ápice do afastamento de Saul do espírito do Senhor. Deus não responde sua consulta (v.6). Disfarçado, à noite, o rei então em desespero procura uma alternativa aos caminhos de Deus (v.8). Saul mente e se esconde, semelhante a atitude de Adão e Eva no Éden (Gên 3).  A ironia nisso é que apesar dele se esconder e mentir, a própria necromante o reconhece e fala a verdade (v.9, 12). Além disso, o próprio ser que aparece a Saul afirma que Deus o havia abandonado (v.16). 
Então se o ser que aparece não era do Senhor Deus, quem seria?

No v.13 a médium afirma avistar um Elohim (Heb. deus[es]) vindo da terra. Essa descrição é enigmática primeiro porque o Deus de Israel normalmente aparece do céu. Devemos lembrar que a palavra Elohim é usada para descrever qualquer ser superior (líderes, deuses, Deus – ver aula Teísmo na Antiguidade). Perceba que ela não afirma ter visto Samuel, mas apenas um elohim, um ancião vestindo um manto (v.14). E baseado nessa descrição Saul achou/percebeu que era Samuel (Heb. yada).

A partir desse reconhecimento a narrativa então usa “Samuel” para descrever o ser com quem Saul conversa (v.15). Se então o morto “Samuel” não vem do Senhor, e usando a explicação Paulina, era um demônio, o curioso nessa passagem é que a sua fala foi verdadeira mas negativa. “Samuel” profetiza que Saul e o exército Israelita seriam destruídos pelos Filisteus. Isso é cumprido cabalmente no final do livro (1 Samuel 31). Pode então um demônio falar a verdade e agir como um profeta? Parece que sim.


Em Gên 3, a serpente fala a verdade em afirmar que os olhos de Eva se abririam e que ela conheceria o bem e o mal. Para Jesus, Satanás cita textos da bíblia, certamente verdadeiros. A sutileza do engano não é a completa falta de verdade, mas a mixtura com o erro e as intenções que geram morte. Ninguém se engana com uma nota falsa de 3 reais porque ela não existe. Falsificação tem como base o verdadeiro.  Nos parec e que o engano de “Samuel” foi reproduzir fielmente o profeta do Senhor fazendo com que o rei Saul aceitasse sua própria teoria do engano. E junto com sua mensagem contendo verdades, “Samuel” aumenta o medo de Saul e faz com que ele perca a batalha para os filisteus (1 Sam 31). Enquanto isso, Davi é vitorioso por ser obediente ao Senhor (1 Sam 30).

Thursday, July 6, 2017

Variadas perguntas de uma aluna

1 - As bulas encontradas na cidade de são selos em cera. Em contato com o fogo elas endureciam e se preservaram.Como pode uma cera endurecer em contato com o fogo? A cera era algum tipo de argila?

Os selos encontrados em Jerusalém eram de barro/argila. Material bem mais comum e fácil de manuseio. Assim, quando a cidade foi queimada eles foram preservados por serem de argila. O fogo ao invés de consumir o barro, o torna mais rígido. 


2 - 9º dia do mês de Av junho/julho/agosto) (Tisha b'Av) O 9º dia do mês de Av é sempre junho/julho ou muda todo ano? Este ano 9º dia de Av será 1º de agosto.

Por que faz jejum nesta data? Será por causa da destruição dos templos?

Destruição do 1º templo pelos Babilônicos
Destruição do 2º templo pelos Romanos (general Tito) 70 DC
Início da 1ª e 2ª grandes guerras mundiais e outros eventos fatídicos aos Israelitas.

Esse dia na tradição rabínica é atribuído a várias catástrofes, começando com o retorno do espia da terra prometida, e a reclamação e punição. Em Núm 14 é mencionado que Deus puniu os Israelitas com a morte no deserto por serem infiéis. Apesar do texto não mencionar o dia, de acordo com a tradição rabínica isso ocorreu no tesha B' av (Mishnah Taanit 4:6)
Com um tempo criou-se na tradição o costume de jejuar (sinal de contrição e tristeza): nada de comida, sexo, cosméticos, banhos. E apenas o livro de Lamentações e Jó podem ser lidos nesse dia. Isso mostra o espírito do dia, de tristeza e reflexão sobre eventos ruins do passado.

3 - A partir do segundo templo não existe mais a arca sagrada e não se pode mais levar sacrifício, por quê?
Na verdade, a arca da aliança está perdida desde o cativeiro Babilônico no século VII-VI a.C. Algumas teorias dizem que a arca foi escondida por Jeremias (2 Macabeus 2:4-8). De acordo com esse texto, a arca foi escondida num local próximo a Jerusalém e será revelado no tempo do fim. No livro do Apocalipse a arca da aliança foi visualizada no céu por João (Apoc 11:19). Seria essa a mesma do templo na época de Salomão? Não está claro, mesmo porque a tradição bíblica e Israelita pós-bíblica indica que no céu a um templo também.

Na Etiópia há uma tradição ainda mais curiosa. De acordo com os cristãos que lá moram, os Israelitas que saíram de Jerusalem para o Egito antes da última invasão dos Babilônicos, (mencionado no livro de Jeremias) levaram consigo vários untensílios do Templo, inclusive a arca da aliança. Sabemos que desde essa época há no sul do atual Egito, em Elefantina, um templo que fora construído por Israelitas e dedicados ao Deus de Israel. Algumas cartas foram preservadas dessa época e mostra o diálogo que esses Israelitas tinham com os moradores de Jerusalém. Além do mais, de acordo com a tradição Etíope, os Judeus que mantinham a arca se converteram ao Cristianismo e hoje a arca é preservada numa igreja de restrito acesso em Axum.

Outras teorias dizem que os cavaleiros Templários acharam a arca na Idade Média e trouxeram para a Europa (França), outros dizem que ela foi levada pelos Israelitas ao sua da África, ou seja, não parou na Etiópia mas continuou mais ao sul e depois foi escondida,....ou seja, com exceção dos Etíopes que dizem possuir a arca, ninguém sabe o que aconteceu com ela ao certo.

Mas, depois dessa digressão, voltando a sua pergunta, por que não mais oferecer sacrifício? Primeiro, não há uma relação entre a arca e sacrifícios. Mesmo depois do cativeiro os Israelitas do 2o Templo ofereciam sacrifício no templo restaurado em Jerusalém. O que a Torá proíbe é o sacrifício fora dos prescintos do Templo. O livro de Levítico é claro quanto a isso (ver 17:1-11). Os Samaritanos no entanto não inclui o sacrifício da páscoa nessa proibição visto que a Páscoa antecede a construção do tabernáculo no livro de Êxodo. Por isso, ainda hoje sacrificam na páscoa.

Já os Cristãos substituíram o sacrifício de animal por outros sacrifícios. Temos o corpo de Cristo na santa ceia como o sacrifício para perdão de pecados, em Romanos 12 Paulo fala do sacrifício da vontade (abnegação), e muitos Cristãos realizam atos de abnegação como sacrifício. Até em nossa língua usamos a palavra para expressar atos que precisam de um certo esforço e não queremos fazer a princípio.

Thursday, May 11, 2017

Conceito de Vida e Morte


Primeiramente para entender o conceito da morte na Bíblia Hebraica devemos entender o conceito de vida. Em Gên 2:7 temos a maneira como Deus cria o homem. ALMA (VIDA, SER VIVENTE)= pó da terra+fôlego de vida (sopro de Deus). Assim alma é o mesmo que um ser humano vivo. Esse conceito não dever ser confundido com o conceito de psyche (Gr.alma) em Platão que influenciou a filosofia e infelizmente a maioria do Cristianismo. Isso fica claro na definição de morte. Ecl.12:7 – MORTE = separação entre pó da terra e fôlego de vida.

O que é o fôlego de vida? Jó 27:3 e outras passagens mostram que RUACH ELOHIM (Heb. vento de Deus, espírito de Deus) é algo divino que gera vida. Em Gên 1 é o sopro/vento/palavra de Deus que cria. Em João 1 Jesus/Palavra de Deus é identificado como o Criador.

O que é a morte? Gen 2:17 afirma que morte é o resultado da desobediência a Deus (o Criador). Isa 59:2, Eze 18:4, I Jo 3:4, Rom 6:23 e outras passagens mostram a mesma ideia. VIDA=conexão com Deus; MORTE = Desconexão com Deus – Desobediência. Assim o livro de Deuteronômio coloca as bençãos (vida-obediência) e maldições (morte-desobediência) baseado na relação da humanidade com Deus. O NT ensina o mesmo mostrando que sem submissão a Cristo não há vida (e.g. Jo 14:6,7, 15:5-10).

Como vida é existência, morte é inexistência. Veja Sal.6:5, 115:17, 146:4, Ecl 3:19-20, 9:4-10. Deve ser por isso que Jesus compara a morte com o sono (Jo 11:11,14) pois não há atividades e lembranças.

O conceito de que a humanidade pode existir sem Deus foi primeiro introduzido na Bíblia pela serpente em Gen 3:4-5 ao contrário da Palavra divina (2:17). Foi Satanás (Apoc 12:9) que inventou a “mentira” que há vida sem o CRIADOR. Assim a noção de que há vida após a morte sem obediência a Deus é atribuida ao inimigo de Deus. Em Dêut 18:9-14 e Isa 8:19-20 isso é bem claro. É a Lei e os Profetas que devem ser consultados acerca de assuntos pertinentes a vida e não necromantes (comunicação com os “mortos”). Visto que os mortos não existem.

Então por que tal proibição? Por que assim como a serpente-Satanás mentiu para Eva assim os inimigos de Deus continuam sua obra de engano ensinando que existe vida após a morte sem Deus mesmo personificando mortos ou anjos – mensageiros de Deus (I Cor 10:19,20, II Cor 11:13-15, Mat 4:1-11, Apoc 13:13-14).

A Bíblia no entanto ensina que por meio de Cristo existe vida após a morte aos que aceitarem a Jesus. Na Bíblia Hebraica isso não está tão claro. Temos indicações que na era messiânica haveria a promessa da ressurreição (e.g. Jó 19:25,26, Isa 65-66, Eze 37, Dan 12:1-2). Isso é deixado mais claro no NT – Jo 3:16, 5:28,29, 11:23-27, I Cor 15:51-54, I Tes 4:15-18, Apoc 15:13, 20:6 – o que essas e outras passagens ensinam é que na vinda do Messias (2ª vinda de Jesus) os seres humanos salvos pela fé em Jesus serão ressuscitados e reinarão com o Senhor. Não antes (Atos 2:34, II Tim 4:6-8, Apoc 22:12).


Obviamente esse é um estudo introdutório. Para mais informações verificar outro materiais. Os que mais recomendo é Oscar Cullman Imortalidade e Ressurreição ; Samuelle Bacchiocchi Imortalidade e Ressurreição

Thursday, April 27, 2017

Jâmnia e o cânon, existia uma Bíblia na época de Jesus?

Quinta é dia de pergunta e resposta aqui no forum. Toda semana publico uma resposta mais elaborada sobre perguntas enviadas por alunos ao meu email. Se deseja sua pergunta respondida aqui, por favor, me envie pelo email rodrigog@eteachergroup.com 


Então, Jâmnia (Yabne; Yavneh) é primeiramente mencionado em escritos rabínicos pelos menos 1 século após o tal evento e a melhor descrição está no Talmud Gittin 56b.De acordo, com a teoria tradicional espalhada por Heirich Graetz em meados de 1870 os relatos rabínicos falam de um debate entre os rabis sobre ALGUNS livros bíblicos que eram considerados impuros por uns e não por outros (Cantares, Eclesiastes e se não estou enganado depois Crônicas e Ester) - ver passagem na Mixná Yadaim 3:5. Então Graetz baseado em passagens como essas que mencionam de decisões acerca de livros da bíblia e da passagem do Talmud Gittin sobre Jâmnia (cidade perto de Tel Aviv hoje) sugeriu que o Cânon foi "definido" num CONCÍLIO EM JÂMNIA... 

Mas até onde sabemos não haviam concílios rabínicos nesse período como é o caso do Cristianismo principalmente no II-IV século (onde questões doutrinárias foram definidas). Hoje mais e mais estudiosos crêem numa pluralidade "canonica" nas várias seitas Israelias nos primeiros séculos da nossa era Os estudos de Jack Lewis e Jacob Neusner mostram que o cânon da Bíblia Hebraica conforme nós temos hoje foi aceito pela maioria dos Judeus apenas após o IV ou talvez V século. 

No entanto não devemos ignorar a influência que o Cristianismo (e outras seitas Israelitas) tiveram na formação do Judaísmo rabínico (e virse versa). por exemplo, recentemente um estudioso de Qumran sugeriu no volume de 50 anos após Qumran (em breve consigo essa bibliografia) que a estrutura dos livros da Bíblia Hebraica em contraste com a estrutura do Antigo Testamento (Cristao) é diferente por razões teológicas discutidas nos primeiros séculos do Cristianismo. Por exemplo, o livro de Daniel não é considerado parte dos PROFETAS, possivelmente porque os Cristãos o usava muito para argumentar o messianismo de Jesus (esp. Daniel 9). Assim, ao remover o livro de Daniel da categoria de profeta, o canôn Judeu sugere que ele não deve ser lido como uma literatura que prevê o futuro mas que olhar para o passado. Estrutura e categorização de literatura bíblical nesse caso é em si uma mensagem teológica.

Thursday, April 20, 2017

Reflexões sobre a Diáspora ontem e hoje

Quinta é dia de pergunta e resposta no fórum do Eteacher. Toda semana publico uma resposta mais elaborada de perguntas enviadas por alunos ao meu email. Extendo aqui algumas das perguntas e respostas das interações com meus alunos do Eteacher - Contexto Judaico do Novo Testamento. 
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Hilel foi mais aceito que Shamai possivelmente por sua flexibilidade em interpretar a Torá. Sugerimos que isso ocorreu provavelmente porque ele era da Diáspora. Para refletir...

(a) Em sua opinião um maior contato com estrangeiros (gentios) contribuiu ou não para interpretação de Hilel? Se contribuiu, para melhor ou pior?
(b) Paulo também era da Diáspora (Tarso - Cilícia) e aprendeu sobre os auspícios de um seguidor de Hilel (Gamaliel). Teria isso contribuído para sua visão mais flexível acerca da Torah e inclusão dos Gentios no Cristianismo?
(c) Jesus cresceu e viveu na Galileia, local de maior exposição estrangeira que Jerusalém (aprendemos mais sobre isso no Curso EXPLORANDO A TERRA DA BÍBLIA), como isso afetou o DNA de seus ensinos acerca da universalidade do reino de Deus?


Minhas observações
É fato que vários Israelitas na época de Jesus não queria se relacionar com Gentios. Visto que no passado, conforme os profetas da Bíblia Hebraica revela, a relação entre Israelitas e Gentios resultou em idolatria e exílio. Assim, no período do segundo templo (c.600 a.C. - 100 d.C) muitos Israelitas não se sentiam confortáveis em arriscar um outro exílio. Ou seja, eles temiam que ao relacionarem com Gentios eles se "contaminariam" e desagradariam a Deus. Outros Israelitas, principalmente os da Diáspora enxergavam o tema diferentemente e eles mantinham certo contato com os Gentios. A literatura de Qumran, o Novo Testamento e a Pseudoepígrafa atestam que o tema era bem sensível na época.

Nos Manuscritos do Mar Morto a tendência percebida é de um afastamento dos Gentios. No Novo Testamento percebemos atitudes nacionalistas por parte dos discípulos e alguns outros Israelitas, que não se davam bem com Samaritanos nem Romanos ou Gentios (e.g. Pedro e Cornélio em Atos 10). O medo de relacionar com os Gentios não significava que todos os Israelitas não compartilhavam suas crenças religiosa com estrangeiros. Em Mateus 23 encontramos Jesus afirmando a iniciativa dos Fariseus em viajar e ensinar a Torá para Gentios, convertendo-os em prosélitos. No Novo Testamento há vários casos de Gentios que aceitaram o Deus de Israel, vários deles centuriões como Cornélio (Mat 8:5-13/Luc 7:1-10; Gerasenos? - Luc 8:26-39; mulher de Tiro Mat 15:21-28).

De acordo com o Talmude (ver aula 29 ou para meus alunos 22 – Judeu entre as Nações e os Intermediários Gentios Prosélitos) para os Fariseus o problema não era se relacionar com Gentios, mas como esse contato deveria ser feito. O ponto de debate era até onde um Israelita deveria ir em contato com um Gentio, ou melhor, o quanto um Gentio deveria se conformar às práticas da Torá. Quando esse contato se tornava impuro e perigoso?!

A preocupação em se expor ao desconhecido tem sido motivo de reflexão da religião bíblica na época de Jesus e hoje. Os movimentos nacionalistas Europeu e os debates sobre a inclusão de refugiados mulçumanos mostram que o contato com o estranho ainda causa muita preocupação à sociedade Ocidental. Na linguagem de Mircea Eliade essa interação ou dicotomia é chamada de sagrado e profano, e nas palavras da antropóloga religiosa Mary Douglas, de pureza e perigo. Entender como harmonizar esses domínios e assim marcar o território do sua comunidade é um assunto perene que abre margem para muitas discusões.

Como você acha que Paulo reagiria a inserção de imigrantes e de outras religiões no Ocidente? Como a mensagem de uma salvação universal impactou seu (Paulo) relacionamento com estrangeiros? E como essa mesma mensagem deveria moldar políticas Cristãs hoje em dia? O que você acha?

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Thursday, March 30, 2017

Lavar as vestes no sangue do Cordeiro

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Versões bíblicas diferem em sua leitura de Apocalipse 22:14, "lavar as vestes” ou “lavar as vestes no sangue do Cordeiro".

O texto em Grego não possui a expressão "no sangue do cordeiro", conforme o texto abaixo:

Μακριοι ο πλνοντες τς στολς ατννα σται  ξουσα ατν π τ ξλον τς ζως κα τος πυλσιν εσλθωσιν ες τν πλιν

Por causa da semelhança de imagem- lavar as vestes - encontradas aqui e em Apoc 7:14, alguns intérpretes dizem que o evento é o mesmo, ou seja, o lavar a veste em Apoc 22:14 deve ser também no sangue do cordeiro. 

Outros não exergam da mesma forma e acham que os eventos são distintos. Baseado em alguns textos de Qumran tem sido sugerido que Apoc 7 é uma alusão a última batalha entre as forças do bem e do mal, por isso a referência a tribulação e sangue. Enquanto isso, as vestes em Apoc 22 são pós batalha para celebração da ceia da vitória. As roupas nesse último evento deveriam estar limpas, sem sangue.  

O Apocalipse no entanto traz uma linguagem aparentemente ambígua, onde SANGUE LAVA. Isso deve ser entendido à luz dos rituais do santuário, onde o sangue era usado como agente de purificação. Isso é complementado pela ambiguidade do ritual que fazia da morte (do sacrifício) a vida (do ofertante).


Thursday, March 23, 2017

A arca da aliança em 2 Crônicas 5:10 não menciona o maná e a vara de Arão, por que?

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אֵ֚ין בָּֽאָר֔וֹן רַ֚ק שְׁנֵ֣י הַלֻּח֔וֹת (Texto Massorético) 

De acordo com a Bíblia Hebraica, apenas as tábuas dos mandamentos estava dentro da arca. O maná e a vara de Arão estavam perante o testemunho (Êxod 16:33-34, Núm 17:10). A expressão em Hebraico usada nos dois textos é a mesma (
לפני העדות למשׁמרת). Perceba que no texto de Hebreus 9 o altar de incenso é colocado junto com a arca da aliança, enquanto que a Bíblia Hebraica em Êxodo 30:6 o coloca fora do véu que divide o lugar santo do santíssimo.

Na descrição que o Cronista faz da construção do Templo em Jerusalém por Salomão, é mencionado que dentro da arca da aliança estava “apenas as duas tábuas” dos 10 mandamentos. Mas o livro de Hebreus no Novo Testamento afirma que além das tábuas a arca continha um pote de maná e a vara de Arão que havia florescido. De onde o autor de Hebreus tirou essa informação?

Em 2 Macabeus e 2 Baruque o altar de incenso é associado com a arca da aliança. Além do mais, o tema de Hebreus 9 parece ser de juízo o que indicaria uma referência ao dia da expiação (Yom Kippur). Nesse dia Arão deveria aspergir sangue de expiação sobre o altar de incenso e sobre a arca da aliança (Lev 16 - LXX). 

Assim, parece que o autor depende de tradições Israelitas do segundo Templo para construir sua mensagem sobre o templo Israelita. 


(Fonte: Harold W. Attridge, The Epistle to the Hebrews, Hermeneia. Fortress: Minneapolis, 1989)

Thursday, March 16, 2017

O que seria a fogueira mencionada em 2 Crônicas 16:14 e 21:19?

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12 No trigésimo nono ano de seu reinado, Asa foi atacado por uma doença nos pés. Embora a sua doença fosse grave, não buscou ajuda do Senhor, mas só dos médicos. 13 Então, no quadragésimo primeiro ano do seu reinado, Asa morreu e descansou com os seus antepassados. 14 Sepultaram-no no túmulo que ele havia mandado cavar para si na Cidade de Davi. Deitaram-no num leito coberto de especiarias e de vários perfumes de fina mistura, e fizeram uma imensa fogueira em sua honra. (2 Crônicas 16:12-14)

18 Depois de tudo isso, o Senhor afligiu Jeorão com uma doença incurável nos intestinos. 19 Algum tempo depois, ao fim do segundo ano, tanto se agravou a doença que os seus intestinos saíram, e ele morreu sofrendo dores horríveis. Seu povo não fez nenhuma fogueira em sua homenagem, como havia feito para os seus antepassados. 20 Jeorão tinha trinta e dois anos de idade quando começou a reinar, e reinou oito anos em Jerusalém. Morreu sem que ninguém o lamentasse, e foi sepultado na Cidade de Davi, mas não nos túmulos dos reis. (2 Crônicas 21:18-20)

Por duas vezes no livro de Crônicas é mencionado um ritual de queima num contexto fúnebre. Apesar de outros textos mencionarem tal prática (queima no funeral do rei – Jeremias 34:5), a única vez que esse ritual é realizado a um rei específico em toda Bíblia é ao rei Asa de Judá (2 Cr 16:14). Em 2 Cr 21:19 é mencionado que o ritual não foi realizado no funeral do rei Jeorão. O que seria essa queima?

O texto não deixa tão claro. Com certeza não era um ritual de cremação pois é deixado claro que o corpo de Asa foi sepultado. É bem possível que a queima tenha sido de incenso ou aromas. O verso 14 contém uma série de 4 palavras que enfatiza perfume (בשמים וזנים מרקחים במרקחת – bálsamos variados, especiarias mistas de óleos [aromáticos]). Parece que essa é a compreensão da maioria dos tradutores bíblicos, haja vista que os eles colocam no texto de Jeremias 34:5 o incenso (“queimou incenso em honra” – NVI) apesar de no Hebraico haver apenas o verboשרפ   - queima.

Relacionado a queima, possivelmente de perfumes, Sara Japhet, comentarista Israelita moderna, nota que o nome Asa é possivelmente Aramaico e seria então o único dos reis de Judá com uma nome não em Hebraico. Em Aramaico seu nome poderia significar “mirra” e é possível que seu nome deu oportunidade ao escritor de Crônicas de interpretar sua história com uma grande festa com perfumes como descrito em 2 Crônicas 16:14. Ela também lembra que há uma possível conexão com queima no texto de Jeorão. O verso 20 traz a expressão  וילך בלֹא חמדה, “e foi sem desejo,” (“Morreu sem que ninguém o lamentasse” - NVI) que na literatura rabínica às vezes a palavra חמדה é traduzida como “fogo.”

Por que então o ritual de queima (provavelmente de incenso) foi realizado para Asa e não para Jeorão? O texto não explica. Ambos os reis estão doentes (Asa no pé e Jeorão na barriga), desobedeceram ao Senhor e trouxeram calamidades aos Israelitas. O curioso é que no caso de Jeorão, Asa é visto como uma figura positiva e temente ao Senhor (21:12). O profeta Elias avisa que o rei não havia andado nos retos caminhos dos pais Josafá e Asa. Assim como Jeorão negou os caminhos do Senhor, o povo nega o ritual em homenagem realizado a seu pai Asa. Novamente, a razão não é dada pelo Cronista.

(Fonte: Sara Japhet, 1 & 2 Chronicles, The Old Testament Library, John Knox Press, 1993)

Sunday, March 12, 2017

Quem será a Raabe de Mateus 1?

Quinta é dia de pergunta e resposta no fórum do Eteacher. Toda semana publico uma resposta mais elaborada de perguntas enviadas por alunos ao meu email. Extendo aqui algumas das perguntas e respostas das interações com meus alunos do Eteacher - Contexto Judaico do Novo Testamento. 

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Na genealogia de Jesus no livro de Mateus (capítulo 1) aparecem quatro mulheres, a primeira delas é  Ραχάβ (Grego). Muitos traduzem esse nome por Raabe, equivalente ao Hebraico  רחב que aparece algumas vezes na Bíblia Hebraica. Devemos notar que a grafia em Mateus é diferente da Septuaginta (LXX), a Bíblia Hebraica em Grego. Na Septuaginta a רחב de Josué 2 e 6 é traduzida como Ραὰβ  (Heb 11:31 e Tiago 2:25). Isso nos leva a considerar se a mulher de Josué é a mesma que Mateus tem em mente. Vejamos primeiro o uso dos termos em Grego e Hebraico para saber se podemos achar alguma resposta para tal questão. Depois comparo as genealogias de Mateus com Rute e Crônicas, menciono algumas tradições Israelitas sobre a personagem de Josué e volto ao texto de Mateus.

A forma que Mateus usa para Raabe (Grego - Ραχάβ) é unica em toda a Bíblia e não podemos então fazer uma comparação linguística. Já a grafia usada em Hebreus e em Tiago (Ραὰβ) é usada na LXX algumas vezes para descrever coisas diferentes. Uma pessoa (mulher em Jericó - Jos 2:1,3; 6:17, 23, 25; rei de Zoba – 2 Sam 8:3, 12) e um lugar (Num 13:21, Jos 19:28, 21:31, Juz 18:28*; Ps 86:4).  Ela traduz o Hebraico רהב que também é usada para descrever o Egito (Sal 87:4, Isa 30:7), e um possível animal forte (Jó 9:13, 26:12, Sal 89:10 e Isa 51:9 – nesse último caso é possível que Isaías se refira tanto a um animal como ao Egito). Os tradutores da Septuaginta traduziram o Hebraico רהב nesse contexto mítico ou poético como κήτη – animal marinho (Jó), ou ὑπερήφανος - arrogante (Salmo 89) que é um dos significados da raíz em Hebraico. A distribuição dessa palavra não nos ajuda então a estabelecer se a personagem de Mateus 1:5 é a mesma de Josué 2 e 6.

Mateus afirma que essa Raabe é progenitora de Boaz por Salmon. A linhagem usada por Mateus vem de 1 Crônicas 2:2-15 e Rute 4:18-22 que só difere da lista de Mateus e Crônicas em não mencionar Judá. (Judá-Perez-Hezron-Ram-Aminadabe-Naason-Salmon-Boaz-Obede-Jessé-Davi). Raabe não é mencionada em Crônicas ou Rute. Assim, também não podemos confirmar sua identidade por esse meio.

Em Josué, Raabe (Ραὰβ) aparece primeiro no recebimento dos espias Israelitas em Jericó (cap. 2) e quando a cidade é destruída (cap. 6). No Josué 6:25 não menciona se Raabe casou com um Israelita, embora isso seja possível. Ela não é mencionada mais em toda a Bíblia Hebraica. Por isso, qualquer informação acerca dessa personagem na cultura Israelita provem de tradição.

O historiador Israelita do século I, Flávio Josefo, não menciona quem foi a mãe de Boaz (Antiguidades 5.323-335) nem comenta nada sobre um possível casamento de Raabe com um Israelita (Antiguidades 5:31). Em tradições Israelitas após o Novo Testamento, Raabe  é identificada como a esposa de Josué e progenitora do profeta Jeremias e da profetisa Hulda (Talmude Megillah 14b, 15a). Ela é descrita como uma das mulheres mais belas do mundo e que a mera menção de seu nome trazia prazer sexual aos homens que a conheciam (Megillah 15a). Apesar de sua conexão com prostituição, ela é louvada com progenitora de profetas por sua fé no Deus de Israel (ver também Midrash Rabbah- Rute 8.1). E isso parece ser semelhante ao que Mateus faz em sua genealogia.

Lembremos que a identificação da Raabe de Mateus 1 com a de Josué é que ela é a única mulher mencionada na Bíblia Hebraica com esse nome. Além do mais as outras 3 mulheres que aparecem na genealogia de Mateus são mulheres não convencionais ou estrangeiras, Tamar, Rute e a esposa de Urias (Bate-Seba). Com esse contexto, a Raabe de Josué se encaixaria bem no perfil que Mateus propõe para o Messias.

Thursday, February 23, 2017

Por que a semelhanca entre o NT e os MMM? Qual a datação dos MMM?

Quinta é dia de pergunta e resposta no fórum do Eteacher. Toda semana publico uma resposta mais elaborada de perguntas enviadas por alunos ao meu email. Extendo aqui algumas das perguntas e respostas das interações com meus alunos do Eteacher - Contexto Judaico do Novo Testamento. 
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Os Manuscritos do Mar Morto (MMM) são semelhantes ao Novo Testamento (NT) por causa da tradição Escriturística Israelita. Ambos usam e "abusam" da Bíblia Hebraica (antigo testamento). quando digo "abusam" é que eles estão cheios, permeados, encharcados da tradição textual principalmente da Torah. Como discutimos em sala de aula os livros mais usados por ambas as tradições são Deuteronômio, Isaías e os Salmos.

As expectativas messiânicas, as leis que governavam suas vidas, eram as mesmas pois todos eram Israelitas (Palestinos em sua maioria). Assim, há muita coisa em comum entre os diversos grupos Israelitas da época. E por isso a importância de estudar tais documentos para entender melhor o contexto no período de Jesus.

Quanto a datação dos Manuscritos foram usadas pelo menos três maneiras de identificação.
a) Arqueologia b)Paleografia (estudo da escrita antiga) c) processo químico - como o Carbono-14

a) Arqueologia - baseado em estudos nas ruínas de Quirbet-Qumran (a vila perto das cavernas a beira do Mar Morto) Roland de Vaux descobriu que o local havia sido habitado em vários períodos:
(1) VIII-VII a.C. - fase Israelita
(2) II-I a.C. - atribuida ao período dos Harmoneus, mais especificamente João Hircano (134-104 a.C.) até c.31 a.C.
(3)Nova fase possivelmente pelo mesmo grupo de c.4 a.C até 68 d.C.
(4) Romanos ocupam local brevemente c.68-69 d.C.

Claro que essas datas são aproximadas e outros tem revisado os detalhes. mas no geral o esquema de de Vaux continua em pé. ou seja, a comunidade dos manuscritos do mar morto (provavelmente os Essênios) habitaram a região entre IIa.C. até a destruição de Jerusalém c.68-70 d.C.

b) Paleografia - baseado na caligrafia dos manuscritos e mais recentemente na sintaxe os documentos achados nas cavernas foram datados entre 250a.C.-68-70d.C. Claro grupos de textos foram colocados em períodos distintos. Alguns dos mais antigos (época dos Hasmoneus) como 4QSamuel(b), 4QJeremias(a) e 4QExodus(f) são diferentes de manuscritos mais "recentes" como 4QNum(b)- época de Herodes o Grande. isso e dá pelo estilo de grafia e como as frases eram compostas que são comparados com documentos mais firmemente datados na região.

c) Quanto ao método químico de datação o carbono-14 lembre-se que nem tudo foi submetido, mas exemplares. e as datas que o espectro de carbono-14 revela é aproximado na melhor das hipóteses num período de 100 anos podendo chegar até 300 anos. Ou seja, esse método apenas não é preciso mas auxilia os outros métodos usados acima. As datas apontadas pelos testes vão de cerca de 390a.C. até 115 d.C. O que corrobora as datas paleográficas e arqueológicas. Se quiser posso te enviar um quadro com uma lista de datas comparativas de alguns manuscritos (do livro THE MEANING OF THE DEAD SEA SCROLLS - James VanderKam e Peter Flint)


Resumindo, eliminando as datas extremas (que podem está corretas) temos uma certa precisão que os manuscritos do Mar Morto e a comunidade de Qumran existiram no período de IIa.C.-Id.C.